segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ENSINAR

Doação.

Missão.

Paixão.

Profissão.



Estimular.

Compartilhar.

Fomentar.

Criar.



Observar.

Oportunizar.

Criticizar.

Emancipar.



Intranqüilidade.

Dialogicidade.

Amorosidade.

Felicidade.



Por



Hamilton Perninck Vieira



Fortaleza, 18 de abril de 2010.

UNIVERSIDADE

A Universidade não é mera organização,

É, contudo, do saber científico instituição,

Sua história é marcada por grande luta,

Da privação do acesso ao saber e da voz impoluta.



A Universidade não é uniformidade,

Não é construtora de Ciência cristalizada,

Mas é universidade na diversidade,

Num quefazer de interdisciplinaridade inacabada.



A Universidade tem uma função social:

Produzir Ciência para emancipação,

Humanizando os homens de forma natural,

Através do ensino, pesquisa e extensão.



A Universidade rima com felicidade,

Pois está à serviço da civilização,

Por meio da Ciência e da amorosidade,

Repensando o passado, modificando o presente e construindo o futuro da nação.



Por



Hamilton Perninck Vieira



Fortaleza, 18 de abril de 2010

EDUCAR

Educar não é inculcar,

Não é transmissão de informação,

Mas é abertura para o (re) criar,

De forma significativa em cada situação.



Educar não é memorizar,

Não é fixação de conteúdos,

Ao contrário, é a proposta de caminhos criar,

Oportunizando escolhas perante o mundo.



Educar, então, é humanizar,

É a abertura do eu para o outro no mundo,

Com o mundo para transformar,

Através da práxis do conhecimento profundo.



Enfim, educar é construir utopias,

É usar o saber para o prazer,

É por meio da prática (re) criar teorias,

É permitir a todos a voz e a vez de dizer.



Por



Hamilton Perninck Vieira



Fortaleza, 18 de abril de 2010.

ENSINAR E APRENDER

Não existe ensinar sem aprender,

Não existe aprender sem ensinar,

Pois quem partilha seu saber,

Com o outro, conhecimento pode trocar.



Quem ensina, ensina algo a alguém,

Por isso, há de se pensar no conteúdo e no educando,

Que conhecimentos prévios tem,

Sendo eles ponto de partir para a Ciência que se faz (re) criando.



Ensinar não é depositar informações,

Com o objetivo de formar para a domesticação,

Mas é criar significativas situações,

Em que o educando seja fomentado a (re) criação.



Ensinar e aprender visão a transformação,

Assim, é um quefazer de politicidade,

Nas de adaptação, mas de inserção,

Em busca da boniteza e da felicidade.



Por Hamilton Perninck Vieira



Fortaleza, 18 de abril de 2010.

FORMAR

Formar? Enformar?

Produto? Processo?

Transmissão pelo falar?

Construção para o progresso?



Assim, formar não é informar,

Porém, a formação prescinde informação,

Mas essa, se (re) faz no (re) criar,

Que produz o conhecimento e o saber em construção.



Logo, formar é refazer,

É não se sentir terminado,

É estar sempre disposto a crescer,

Na estrada das incertezas e do inacabado.



Por fim, formar não é certificar,

Contudo, na formação reside a titulação,

Num quefazer de sempre estar,

Na dialética do ser e não-ser da formação.



Por



Hamilton Perninck Vieira



Fortaleza, 16 de abril de 2010.

FELICIDADE É...

A felicidade não é algo que temos ou conquistamos, mas uma postura realista perante a vida. Neste sentido, aprecia a alegria para que na tristeza possa extrair aprendizado. Assim, não tem tudo que ama, mas ama tudo que tem. Diante disso, ser feliz não é viver a perenidade da alegria, mas entender que na vida, muitas vezes é preciso perder para ganhar, nada ter para tudo possuir, chorar para valorizar o riso, morrer para a angústia para viver o contentamento.

Nesta direção, felicidade não é ter coisas, mas amar pessoas. Não é conquistar meros títulos de honra, contudo, ser amigo da humildade. Não é construir impérios grandiosos, entretanto, edificar relacionamentos eternos.

Enfim, a felicidade é saber que mesmo nada tendo, tudo podemos possuir. Se, de um lado, não somos reconhecidos como alguém no mundo, podemos ser influenciadores do mundo de alguém. Obviamente que, isso só pode acontecer se o amor é o nosso guia, a fé nossa força e a esperança nosso lema!

Por

Hamilton Perninck Vieira

24 de julho de 2010

Praia do Guajiru. Fortaleza/CE

O SER HUMANO EM BUSCA DE SI PRÓPRIO

“Homem, conhece-te a ti mesmo” Sócrates

O ser humano é um ser “odisséico”. Como humanos mortais está em busca de algo. Deseja conhecer a si próprio e o mundo que o cerca. Isso por que o homem possui dentro de si a falta, a necessidade, a paixão por algo que transcende a si mesmo.

Sabemos que a vida é uma eterna aventura. O homem desde seus primórdios vive em busca de sair de si mesmo e se encontrar com algo maior que si. Nessa busca ele encontra alguns atalhos. O conhecimento, o poder, a fama, o prazer, são atalhos que o homem toma nessa busca de encontrar a si próprio.

A origem dessa busca está fundamentada na origem de sua natureza. O ser humano é resultado de um projeto eterno do Criador. Este desejou na eternidade criar um ser que tivesse desejo por desejar o relacionamento com Ele. Deus colocou no homem a sede e Ele é a Água; a fome e ele é o Alimento; a busca por entender a si próprio e Ele é razão de seu existir.

No entanto, viver é mais que existir. Muitos de nós apenas existimos, não vivemos, pois viver pressupõe auto-conhecimento e conhecimento do mundo no qual interagimos. O ser humano precisa olhar para dentro de si e perceber que lá está sua origem. A busca do homem é intrínseca a ele mesmo. Olhando para dentro de si pode encontrar a resposta para aquilo que vive fora de si e dentro do outro. A vida sem a compreensão e prática do que somos e do mundo que nos cerca é mera existência animal e não vida plena e realizada.

Por isso, o ser humano vive a grande realidade da frustração. Ele procura suas origens fora de si. A última, porém, a mais obvia de todas as portas, o seu coração, jamais é tido como eixo axial de sua vida. Por isso, Sócrates afirma que o homem precisa se auto-conhecer. Para isto, é necessário voltar-se a Origem do ser humano, Deus. Não um ser cósmico, distante, humano, mas Pessoal, Presente e Divino. Ele é nossa Origem e Destino. Saímos dele e voltaremos para Ele. A felicidade e a vida plena estão nEle. Nossa eterna busca termina quando O encontramos. Nossa inquietude é trocada pela paz quando o encontramos. Nosso dês-amor é trocado pelo Amor incondicional que nos ama por aquilo que Ele é, e não por aquilo que somos ou fazemos.

Conhecer a nós mesmos é conhecer o Deus que nos conhece. Quando Ele se revela a nós, podemos vislumbrar quem Ele é. Conhecendo-o podemos nos conhecer. Recebendo dEle podemos dar. Mas para isso, precisamos morrer nele para que possamos viver. Isso porque seu Filho já morreu por nós para que possamos viver eternamente. Assim, concluímos fazendo com que Sócrates olhe para a Causa e não para o efeito: “Homem, conhece o Deus que te conhece”. O homem só pode se auto-conhecer e se sentir amado quando Deus, o Criador, se revelar a ele como Deus que o conhece e o ama eternamente.

Por

Prof. Hamilton Perninck Vieira

AMOR É DECISÃO

“O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (I Co 13.6,7)

O amor é uma das palavras mais difíceis de se definir em nosso vocabulário. O Dicionário Miniaurélio diz que amor é: 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar outrem. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma coisa. 3. Inclinação ditada por laços de família. 4. Inclinação sexual forte por outra pessoa. 5. Afeição, amizade, simpatia. Podemos perceber que a definição de amor do dicionário está relacionado ao sentimento e a paixão por alguém. A amizade, afeição e a simpatia, nos trazem algum lampejo do que realmente é o amor, mas não conseguem chegar a seu âmago.

Nossa sociedade vive o amor utilitarista. Ama-se por algo mais do que pelo amor e seu objeto, o ser amado. Ama-se porque se quer algo em troca. Nunca é simplesmente dar, mas somente receber. Quando se dá, é uma dádiva que não é dádiva, mas barganha. Dádiva é graça, amor interesseiro é troca. Ama-se pelo que o ser amado tem ou pode fazer em prol de quem procura amar.

Amar não é ser feliz por aquilo que se vai ter, mas por aquilo que já se tem. Esse é um amor ilusório. É como uma bolha de sabão. É bonito enquanto contemplação, mas quando se toca, se desfaz, acaba, perde o brilho, a vida. Tais pessoas que assim amam, colocam o amor naquilo que não se tem. Quando o possuem, deixam de amar. A semelhança de alguém que se apaixona e luta por conquistar o ser amado. Quando conquista, perde o sabor, a paixão, o desejo, e se aventura numa nova busca do amor-pelo-que-se-almeja-ter, e não por aquilo que já se alcançou.

Nossa sociedade ainda vive o amor como sensação. É o amor passional. Amar é sentir. Aquele calafrio resultado dos batimentos cardíacos alterados quando se vê alguém que se ama e se sente o desejo sexual, são sinônimos do amor. Mas quem disse que amar é sentir apenas? Quem disse que a realidade do amor se manifesta quando o sentimento aflora? O amor envolve sentimento, mas transcende a sensação.

Amor é decisão mais que sensação. Amar é decidir. Amar é se dar. Amor é mais comportamento que sentimento. O amor passa pelo sentimento, mas em sua transcendência, chega a sua plenitude no gesto, na ação, na prática em prol do ser amado. Quem ama sente, mas quem sente, nem sempre ama. Amar é sentir, mas é mais, é agir. Desde um singelo gesto de trazer um copo de água para alguém que amamos que acabou de chegar com sede, até um carinho, um beijo, um presente, a lembrança de uma data especial, enfim, percebemos que o amor age mais que sente, mas também sente, por isso age. Contudo, se a sensação não leva a ação, não é o amor verdadeiro, é mera abstração do gostar.

Amar é alegrar-se na verdade. O amor tem como ação a sinceridade. Sempre vive a verdade. Não há espaço para a mentira. Fala a verdade quem ama. Amar é viver e dizer a verdade. Sempre preza por uma gota de verdade ao invés de um oceano de mentiras. O verdadeiro amor tem como pilar comportamental a verdade no pensar, agir e sentir do amante e do ser amado.

Amar é tudo sofrer. O amor traz a capacidade de lidar com o sofrimento. A despeito de tudo e todos o amor faz com que seres humanos limitados e mortais lutem pela vida junto ao ser amado. O amante prefere sofrer que permitir que o ser amado sofra. Amor é auto-sacrifício. Não importa a situação, o sofrimento ao invés de findá-lo, eterniza-o. O sofrimento cristaliza a relação do amante e do ser amado. Ao invés de matá-lo, ele vivifica-o para a eternidade. Amar é saber sofrer.

Amar é tudo crer. O amor é pai da fé. Ele acredita. Acredita mesmo em face da oposição. Ele desacredita da incredulidade. É cético em relação ao ceticismo. Para o amor não existem palavras como: Não posso! Não dá mais! Acabou! Ele sempre vai lutar contra as evidências, as provas, os laudos, as postulações. O amor é incrédulo quanto à falta da capacidade de continuar. Seu lema é: Vamos, seremos sempre vencedores! Como filha do amor a fé faz com que seu pai se fortaleça, se eternize, seja perene. Amar é sempre acreditar.

Amar é tudo esperar. O amor tem outra filha: a esperança. Ele jamais se desespera pois sempre está esperando. O verdadeiro amor faz com que haja sempre a sensação de que tudo pode ser mudado. Não se dá por vencido, espera, espera, espera, e continua esperando. Muitas vezes o amor espera pela esperança, pois parece que ela foi embora. Mas essa capacidade de esperar pela esperança, nasce nos momentos de crise onde o amor é testado, provado, forjado, crisolado, para que venha a ser uma grande jóia que vai mostrar sua beleza para todos ao redor. Amar é saber esperar.

Amar é tudo suportar. Amar é transpor e vencer obstáculos. Mas não se tornar capacho de alguém, suportando tudo, a dor, o espancamento, as palavras torpes, ou desprezo sem falar nada. Isto não é o amor, é tudo, menos o amor. No mínimo pode ser falta de inteligência, e no máximo a nunca existência do amor entre o amante e seu amado. Amar é tudo suportar para viver ao lado do ser amado. Lutar a luta contra o des-amor. É ser e viver como vitorioso do amor mesmo em face das circunstâncias adversas. O amor aprende a ser amor quando aprende a suportar o des-amor.

Por fim, podemos dizer que nessa relação do amor sensação e ação, Shakespeare nos ajuda a entender que “[...] o amor não é amor se ele muda ao encontrar uma mudança, ou desaparece quando a frustração procura afastá-lo” (trecho do Soneto 116). Perenidade e não transitoriedade é amor. Eternidade e não futilidade. Segundo a Bíblia, três coisas na vida são perenes: a fé, a esperança e o amor. A fé e a esperança são filhas do amor. Mas o amor em sua paternidade da fé e da esperança é maior. Isso porque só pode acreditar e esperar quem ama. Ama de coração, da alma, do âmago do ser; de dentro, do interior; mas transcende a sensação, chega ao seu ápice: a ação. Só podemos dizer que vivemos o verdadeiro amor se o que sentimos em nossos corações por alguém ultrapassa a sensação, desemboca na ação, no gesto, no comportamento, na verdade, no sofrimento, na fé, na esperança, e na vitória suportando as provações. Amor é decisão!

Por

Prof. Hamilton Perninck Vieira

28/07/06

VIVER A VIDA EM SUA INTENSIDADE É...

1. É saber que na vida nossas perguntas nem sempre terão respostas;


2. É buscar o que não se tem, mas descansar e ser grato pelo que já foi alcançado;

3. É saber que pra se ganhar é preciso perder;

4. É saber que é necessário morrer para poder viver;

5. É saber que onde quer que se esteja se pode estar porque Deus assim quis que lá estivéssemos;

6. É saber que nos encontros e desencontros da vida deixamos um pouco de nós e levamos um pouco do outro;

7. É em todo o tempo olhar somente para Deus e nunca para si mesmo ou para outrem;

8. É mais adorar a Deus pelo que Ele é, do que louvá-lO pelo que Ele faz;

9. É saber que em cada lágrima derramada existe uma lição de vida a ser aprendida quando vier o sorriso;

10. É não fixar os olhos no natural, mas sim no que é sobrenatural, pois esse último trás consigo o primeiro;

11. É saber que quando nada temos, alguém é nosso tudo;

12. É sentir paz em meio a guerra, fé em meio da dúvida, alegria na tristeza, contentamento na escassez, e o amor onde impera o ódio;

13. É saber que a alegria é uma ótima amiga, mas uma péssima professora, contudo, a dor é uma péssima amiga, mas uma excelente professora;

14. É entender que para ser sábio é preciso mais ouvir e menos falar;

15. É saber que nunca tudo sabemos, mas que a vida é um eterno aprendizado;

16. É aprender mais do que ensinar, pois quem ensina é porque sempre está aprendendo;

17. É saber que é melhor ser do que ter, pois quem é acaba tendo, mas o contrário não é verdadeiro;

18. É se tornar a cada dia mais humano pelo quê se ama, e não pelo que se raciocina;

19. É saber que não somos o que fazemos, mas sim o que amamos;

20. É estar sozinho, mas sentir-se acompanhado; nada ter, mas tudo possuir; ser órfão, mas sempre viver em família;

21. É saber que para crescer é preciso primeiro engatinhar, pois para ser um expert em um idioma, primeiro deve-se balbuciar as primeiros encontros vocálicos de uma língua;

22. É nunca ignorar os primeiros começos, pois sem eles nunca haverá o gran finale;

23. É nunca dar tudo por acabado, pois sempre haverá um recomeço;

24. É nunca dizer nunca, pois quem diz nunca se esquece que o sempre é uma possibilidade;

25. È nunca fechar portas, pois algum dia pode ser que se precise que uma delas se abra;

26. É saber que é melhor dar do que receber, pois quem dá é porque está sempre recebendo;

27. É eternamente amar as pessoas acima das coisas e nunca as coisas acima das pessoas;

28. É buscar sempre viver o tudo de Deus para que nunca morramos com o nada do homem;

29. É saber que podemos não ser ninguém no mundo, mas podemos ser o mundo de alguém.

30. É saber que quando nos sentimos sozinhos, Deus e a quem amamos é nossa companhia;

31. Por fim, ser feliz não é nunca ficar triste, mas saber que existe alguém que pode nos faz sorrir.

SOMOS SERES DE PERTECIMENTO...

Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo (Gl 6.2)


Antes de tudo, ao contrário do que prega a individualidade da sociedade capitalista, o ser humano é um ser de pertencimento. Desde a concepção até a morte desenvolvemos essa necessidade senso de pertencimento. Por que nascemos da comunidade paterna e para a comunidade social, nossa lida nesse mundo funda-se na busca da identificação com algo que nos sintamos parte de um todo. Para tal, nossa odisséia nesse mundo pauta-se na aventura da descoberta de nossa origem, identificação com o outro e com o Totalmente Outro.

Em primeiro lugar, sentimo-nos pertencentes a uma origem. Assim, tudo o que fazemos, reflete, ainda que inconscientemente, a reflexão sobre de onde viemos, onde estamos e para onde vamos. Logo, como seres lacunares, algo dentro de nós constantemente nos dá testemunho que não viemos da solidão, mas da comunhão. Lembramo-nos que “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.8a). Portanto, em nosso DNA está à marca do pertencimento que busca para além de si mesmo a significação de quem somos e a que viemos nesse mundo. Diante disso, é no pensar sobre de onde viemos e porque estamos aqui que não faz sentido a vida solitária em detrimento do pertencimento comunitário.

Neste sentido, em segundo lugar, temos a necessidade de identificação com o outro e não o “ilhamento ensimesmado”. Logo, se não somos de nós mesmos, só podemos encontrar a nossa razão de ser no outro. Assim, é com o diferente na diferença que somos feitos iguais. Contudo, não iguais no sentido de nivelar e massificar nossa identidade, mas iguais no sentido de que somos diferentes e vivemos na e para a diferença. Portanto, não somos uma tela pintada de uma só cor, mas um mosaico do “eu” que constrói o “nós”. Por isso, temos a necessidade da vida familiar, social e profissional, torcemos por um time favorito de futebol, escolhemos nossos amigos, no sentido de aceitarmos e sermos aceitos, sermos humanos à medida que nos humanizamos através do outro, amarmos e sermos amados e vivermos gerando vida.

Sendo assim, por sermos seres de pertencimento, precisamos aprender a ver o outro como alvo de aceitação, serviço, suporte, encorajamento e amor. Por assim dizer, quanto à aceitação, a Bíblia diz: “portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus (Rm 15.7). Logo, só podemos aceitar as diferenças outro porque o amor incondicional de Cristo nos aceitou e por isso somos iguais. Por isso, “não sejamos presunçosos, provocando uns aos outros e tendo inveja uns dos outros (Gl 5.26). Portanto, a inveja é o sentimento deturpado da busca de nossa aceitação por sermos o outro, mas à medida que queremos ser o outro, deixamos de sermos nós mesmos.

Em relação ao serviço, o Senhor diz: “mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor” (Gl 5.13b). Sendo assim, somos livres à medida que paradoxalmente somos senhores do nosso individualismo escravos do amor. Por isso, nosso senso de pertencimento restaurado e potencializado pelo amor de Cristo, nos faz dar um salto do nosso individualismo para a vida em comunidade e do egoísmo para o serviço. O apostolo do amor declarou: “amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros (I Jo 4.11). Portanto, só podemos servir em amor ao outro porque Jesus nos serviu e amou primeiramente. Logo, só podemos dar o que temos.

Assim, esse amor, se manifesta no outro através de ações de suporte e encorajamento. Sendo assim, Paulo diz: “sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor (Ef 4.2). Logo, esse amor que dá suporte demonstrado ao outro não é solitário, vem acompanhado da humildade e paciência. Isso porque não é possível amar o outro sem reconhecer que ele é superior e que precisa ser compreendido como diferente na diferença. Tal postura convida-nos ao encorajamento mútuo: “ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama ‘hoje’, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado (Hb 3.13). Assim, é no continuo encorajamento do outro que somos encorajados em nossa própria labuta existencial comunitária.

Por fim, a necessidade de pertencimento do outro, faz-nos pensar na necessidade de pertencimento do Totalmente Outro. Logo, se em nós existe a necessidade de transcender da individualidade para sociedade, somos convidados por nosso inacabamento humano a encontrarmos a perfeição divina. Entendemos que o outro é a expressão do Sagrado em nós, mas ele é apenas reflexo, lampejo, não o Sagrado em Sua plenitude essencial. Portanto, nossa necessidade de comunhão com o outro, leva-nos aos braços do Totalmente Outro. Contudo, apesar dEle ser Além, não está aquém; apesar de estar Lá, nunca nos abandona aqui; apesar de habitar a Eternidade, não nos deixa agora.

Em suma, fica o desafio de construirmos nossa identidade como pessoa no salto de nosso individualismo para a vida em comunidade pois somos seres de pertencimento e não de ensimesmamento!

Por Hamilton Perninck Vieira

23 de agosto de 2010.