segunda-feira, 23 de agosto de 2010

SOMOS SERES DE PERTECIMENTO...

Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo (Gl 6.2)


Antes de tudo, ao contrário do que prega a individualidade da sociedade capitalista, o ser humano é um ser de pertencimento. Desde a concepção até a morte desenvolvemos essa necessidade senso de pertencimento. Por que nascemos da comunidade paterna e para a comunidade social, nossa lida nesse mundo funda-se na busca da identificação com algo que nos sintamos parte de um todo. Para tal, nossa odisséia nesse mundo pauta-se na aventura da descoberta de nossa origem, identificação com o outro e com o Totalmente Outro.

Em primeiro lugar, sentimo-nos pertencentes a uma origem. Assim, tudo o que fazemos, reflete, ainda que inconscientemente, a reflexão sobre de onde viemos, onde estamos e para onde vamos. Logo, como seres lacunares, algo dentro de nós constantemente nos dá testemunho que não viemos da solidão, mas da comunhão. Lembramo-nos que “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.8a). Portanto, em nosso DNA está à marca do pertencimento que busca para além de si mesmo a significação de quem somos e a que viemos nesse mundo. Diante disso, é no pensar sobre de onde viemos e porque estamos aqui que não faz sentido a vida solitária em detrimento do pertencimento comunitário.

Neste sentido, em segundo lugar, temos a necessidade de identificação com o outro e não o “ilhamento ensimesmado”. Logo, se não somos de nós mesmos, só podemos encontrar a nossa razão de ser no outro. Assim, é com o diferente na diferença que somos feitos iguais. Contudo, não iguais no sentido de nivelar e massificar nossa identidade, mas iguais no sentido de que somos diferentes e vivemos na e para a diferença. Portanto, não somos uma tela pintada de uma só cor, mas um mosaico do “eu” que constrói o “nós”. Por isso, temos a necessidade da vida familiar, social e profissional, torcemos por um time favorito de futebol, escolhemos nossos amigos, no sentido de aceitarmos e sermos aceitos, sermos humanos à medida que nos humanizamos através do outro, amarmos e sermos amados e vivermos gerando vida.

Sendo assim, por sermos seres de pertencimento, precisamos aprender a ver o outro como alvo de aceitação, serviço, suporte, encorajamento e amor. Por assim dizer, quanto à aceitação, a Bíblia diz: “portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus (Rm 15.7). Logo, só podemos aceitar as diferenças outro porque o amor incondicional de Cristo nos aceitou e por isso somos iguais. Por isso, “não sejamos presunçosos, provocando uns aos outros e tendo inveja uns dos outros (Gl 5.26). Portanto, a inveja é o sentimento deturpado da busca de nossa aceitação por sermos o outro, mas à medida que queremos ser o outro, deixamos de sermos nós mesmos.

Em relação ao serviço, o Senhor diz: “mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor” (Gl 5.13b). Sendo assim, somos livres à medida que paradoxalmente somos senhores do nosso individualismo escravos do amor. Por isso, nosso senso de pertencimento restaurado e potencializado pelo amor de Cristo, nos faz dar um salto do nosso individualismo para a vida em comunidade e do egoísmo para o serviço. O apostolo do amor declarou: “amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros (I Jo 4.11). Portanto, só podemos servir em amor ao outro porque Jesus nos serviu e amou primeiramente. Logo, só podemos dar o que temos.

Assim, esse amor, se manifesta no outro através de ações de suporte e encorajamento. Sendo assim, Paulo diz: “sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor (Ef 4.2). Logo, esse amor que dá suporte demonstrado ao outro não é solitário, vem acompanhado da humildade e paciência. Isso porque não é possível amar o outro sem reconhecer que ele é superior e que precisa ser compreendido como diferente na diferença. Tal postura convida-nos ao encorajamento mútuo: “ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama ‘hoje’, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado (Hb 3.13). Assim, é no continuo encorajamento do outro que somos encorajados em nossa própria labuta existencial comunitária.

Por fim, a necessidade de pertencimento do outro, faz-nos pensar na necessidade de pertencimento do Totalmente Outro. Logo, se em nós existe a necessidade de transcender da individualidade para sociedade, somos convidados por nosso inacabamento humano a encontrarmos a perfeição divina. Entendemos que o outro é a expressão do Sagrado em nós, mas ele é apenas reflexo, lampejo, não o Sagrado em Sua plenitude essencial. Portanto, nossa necessidade de comunhão com o outro, leva-nos aos braços do Totalmente Outro. Contudo, apesar dEle ser Além, não está aquém; apesar de estar Lá, nunca nos abandona aqui; apesar de habitar a Eternidade, não nos deixa agora.

Em suma, fica o desafio de construirmos nossa identidade como pessoa no salto de nosso individualismo para a vida em comunidade pois somos seres de pertencimento e não de ensimesmamento!

Por Hamilton Perninck Vieira

23 de agosto de 2010.

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